segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Adeus Colares e Rumo ao Marajó

Caros amigos,
Esperamos que não tenham ficado com a impressão de que todo mundo é meio louco em Colares. Podemos dizer que tivemos muita sorte em ficar no “hotel” da Mara e encontramos muitas pessoas simpáticas e dispostas a nos ajudar. Mas também, como sempre, encontramos tranqueiras – como se encontra em qualquer parte do mundo. Aqui nos referimos ao infeliz incidente que tivemos com nosso ajudante local, o Junior, Juninho ou Bacu – como é conhecido em Colares. Bacu foi um daqueles locais curiosos e desocupados que sempre encontramos em todas as coletas independente de estado da federação onde nos estamos. Ele “foi contratado” como responsável pela lavagem de materiais, pegar os bichos quando chegavam, fazer isso, fazer aquilo... ou seja, todas aquelas pequenas coisas que tomam tempo e desviam nossa atenção dos vermes embora muito necessárias. Outro dia ele aparece no meio da tarde com um amigo que dizia ser filho de um dos pescadores que estava nos ajudando a coletar os hospedeiros e que precisava de dinheiro para comprar remédio para a mãe doente; portanto viera para receber pelas arraias que o pai havia coletado. Como não tínhamos todo o dinheiro adiantamos dez reais e dissemos que viesse mais tarde para pegar o restante e preencher o recibo. Ele nunca retornou. No final da noite, o Bacu volta com uma cara de quem havia tomado umas e outras dizendo que precisava de três reais para comprar leite. Qua! qua! Não foi dificil fazê -lo confessar de que o dinheiro era para tomar umas. Por azar do Bacu, logo após adiantarmos os reais que pedira surgem dois irmãos dizendo ser filho do mesmo pescador que já haviamos adiantado dez reais. Vixe, ai começaa a confusão! Para encurtar a história, o Bacu havia arquitetado a maracutáia para conseguir dinheiro para tomar umas. Tivemos de “demiti-lo” mesmo que implorasse por desculpas. Depois descobrimos que haviamos tomado outros cambáus da mesma natureza ao longo da semana! Enfim, esse foi nosso único incidente em Colares, o resto, só alegrias (incluindo a muqueca de Potamotrygon orbignyi –uma das espécies de arraia de água doce que ocorre em Colares, que fizeram especialmente para nós no restaurante que comíamos todos os dias; fantástica!) ... bom, quase. Deixamos Colares na sexta-feira por volta das 11 horas. Na realidade a retirada começou na quinta-feira. Neste dia processamos as arraias pela manhã e depois resolvemos ir a Belém para despachar 200 kilos de arraias para São Paulo. Pedimos ao marceneiro local que nos fizesse uma caixa de 120x80x50 cm, que nos custou 90 reais, colocamos as arraias dentro e partimos após o almoço. Despachar as arraias não foi tão simples como pensávamos, pois foi difícil conseguir uma transportadora que levasse a encomenda para São Paulo, mas finalmente conseguimos, depois de inúmeras tentativas – principalmente de seguir as informações que recebíamos entre uma transportadora e outra, pois aqui a direita pode ser a esquerda e vice versa! “Logo ali” pode estar a qualquer distância. Enfim, na semana que vem essa caixinha de arraias deverá estar entulhando o já entulhado corredor do Departamento de Zoologia. De volta à Colares fomos a orla conversar com o Berinho. Enquanto o papo vai não é que surge de um terreno baldio um tamanduá -mirim! Esse caminha em nossa direção com aquela curiosidade de tamanduá -mirim, cheira aqui, cheira ali, desvia a uns 3 metros de nós e segue caminhando pelo meio-fio da rua em direção à igreja. Morremos de rir, pois nunca vimos um tamanduá -mirim mais arredio como esse. Fomos dormir. Na manhã seguinte começou o processo de retirada formal da cidade. Isso incluiu arrumar a bagagem do carro, pagar a todos os pescadores e demais colarenses que devíamos e conseguir remédio para nossos novos tripulantes – exemplares de Ancilostoma sp. que, sem serem convidados, começaaram a seguir viagem com a gente. Esses sim são os verdadeiros alienígenas de Colares! Para quem desconhece, Ancilostoma é o gênero do tão conhecido bicho-geográfico ou larva migrans. Pois é, alguns deles pegaram carona no pé do Fernando. Ele tinha atribuído nomes aos companheiros, mas como a cada dia descobria mais um – atualmente são 4 do pé direiro e pelo menos 3 no esquerdo, desistiu da idéia. Antes de partir o Fernando foi ao posto de saúde de Colares para ver se eles lhe davam uma amostra da pomada Thiabena®, mas só havia o genérico Tiabendazol, mas para via oral – que ele nem sabia que existia. O médico, sob sua insistência de obter a pomada, lhe disse que havia inadvertidamente receitado o genérico Tiabendazol a uma paciente de Colares e ignorando o fato de que a aplicação deveria ser oral prescreveu a ela que aplicasse o medicamento topicamente! Ele lhe garantiu que dava certo! Ele também sugeriu que o Fernando aplicasse um anti-micótico, ignorando que bicho - geográfico não é fungo e sim um nematódeo. Como pragas dermatológicas devem ser consideradas medicina de urgência, pois é necessário tratar rápido antes que se curem sozinha – o Fernando desistiu dos conselhos do médico e foi em uma das duas farmácias de Colares e comprou a pomada. Assim, nós e nossos amigos partimos para Belém. Belém foi só correria, muito transito e, um calor da porra! O Fernando ligou para um antigo amigo – Jaime, que muito gentilmente nos levou para as bibocas do Guamá e do centro da cidade onde poderíamos comprar formol, fralda, álcool e etc. O que deu mais trabalho foi encontrar as castanhas do Pará para matar a vontade-patológica da Verônica de comer essas delicacias paraenses. Havíamos estado em Bélem em duas outras ocasiões mas ou esquecemos ou não encontramos as benditas castanhas. Fomos encontrar essas castanhas em um cruzamento quando estávamos a caminho do hotel. Após esse dia de correria fomos ao hotel para tomarmos um banho, dar uma breve descansada e sairmos para pegar o Jaime para jantarmos. A noite foi curta para o dia longo como o que tivemos. Dormimos pouco, 4:45 levantamos partimos para Icoaraci e pegamos a balsa para Ilha de Marajó que sairia as 6:30. Foi essa nossa trajetória de Colares Ilha de Marajó.

Beijos e abraços a todos.

Fernando, Verônica e Mauro

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