sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Ilha de Marajó: entre búfalos, arraias e escovas

Caros amigos,
O último blog que mandamos havia sido escrito, em grande parte – limitações da bateria do laptop, na balsa que nos levava para Ilha de Marajó . Fazemos o mesmo neste momento agora no caminho de volta para Belém. Nossa ida à Ilha de Marajó tinha como objetivo coletar no município de Cachoeira do Arari, o que fizemos, mas não imediatamente. Aportamos em Camará por volta das 12 horas de sábado e seguimos direto pra Cachoeira do Arari, onde deveríamos encontrar o Catarino – um antigo contato que tinhamos nesta localidade. Partimos de Belém com outros nomes, caso não encontrássemos o Catarino. Ainda bem, pois é o Catarino não foi encontrado, mas encontramos o Jorginho que lá para as 14 horas já havia tomado muita cachaça! Ao dizermos que foi o Jaime de Belém que havia indicado seu nome para nos ajudar a coletar as arraias Jorginho, pescador de peixes ornamentais dizia: “No meu coração tem uma ponta de ouro para o Jaime e por onde eu passo eu deixo alegria e amor pois isso me traz oportunidade!” Bom,o estado do Jorginho não inspirava muita confiança, mas sábado a tarde, em uma cidade como Cachoeira do Arari, poucos eram os homens que estavam sóbrios. Voltaremos ao Jorginho e a cachoeira do Arari mais adiante, pois como Jorginho nos informou que eles só coletariam na segunda-feira decidimos passar o domingo em Soure. Desta forma, após combinar o que poderia ser combinado com o Jorginho naquele estado partimos para Soure. Realmente a Ilha de Marajó uma região diferenciada em nosso país, e certamente Soure é onde se sente muito do que a Ilha. É Fundada em 1924, Soure difere das demais cidades que vimos aqui no Pará. Suas ruas são demasiadamente largas para o porte da cidade - umas pavimentadas, outras não, há enormes mangueiras por toda a cidade, as pessoas são muito educadas e prestativas e paira pelo ar uma coisa meio caribenha. Existem pelo menos duas grandes missões católicas que devem datar da fundação da cidade e garantem a predominância de igrejas católicas na região – ao contrário das inúmeras igrejas evangélicas que permeiam os povoados por onde passamos e finalmente, a cidade está organizada por ruas e travessas numeradas, como New York! Outra coisa que chama a atenção é a presença de búfalos por toda a parte, não somente pastando pelas enormes planícies da ilha mas participando do cotidiano de Soure. O cotidiano dominical de Soure. Uns contemplam o vento fresco e o sol ainda gentil da manhã, outros cuidam se seus afazeres. Chegamos à Soure por volta das 6 da tarde e depois de convencer o recepcionista de uns dos melhores hotéis da cidade a nos dar 40% de desconto na diária estávamos instalados em um hotel com piscina, na frente do mar! Um luxo para as pobres almas sofredoras, mesmo que temporário. Como havíamos acordado às 4:45 e rodado bastante estrada de chão sob a temperatura amena desta região a noite foi curta, porém a piscina se tornou irresistível para o Maureba e a Verônica enquanto o Fernando tentava se livrar de seus parasitas! Pela manhã de domingo, decretado o feriado geral, comemos tudo que havia a disposição na mesa do café da manhã – como o Fernando e o Maureba disseram “eram nós contra eles” e comendo muito economizaríamos o almoço! Entupidos, Mauro e Verônica decidiram ir a praia, Fernando e seus parasitas ficaram no hotel escrevendo o blog anterior e prestando seus serviços de orientador-remoto. Quase ao meio dia Mauro e Verônica retornariam ao hotel para buscar o orientador, pois como diziam eles: “Você precisa ver essa praia!!!!!!!!!” Eles estavam certos, aquilo era realmente magnífico. Principalmente a paisagem de tormenta que se aproximava no momento em que chegamos. A praia do Pesqueiro é muito longa. Logo que se chega a praia observa-se uma lagoa gigante à esquerda e à direita a praia parece não ter fim. Há alguns quiosques e suas mesas que sevem cerveja e aperitivos. Nessa época do ano o praia é visitada por poucos moradores e alguns turistas que por ventura vieram parar nessa parte do mundo. Segundo Mauro e Verônica a água é doce (ou levemente salobra) – o que é fantástico para uma praia com ondas! O vento leste/sudeste é constante e rege a dinâmica climática da região e tempestades como estas são, via de regra, efêmeras – o sol quente não tardaria em voltar nesta tarde. Como pé-bichado não combina com praia, voltei à cidade enquanto Mauro e Verônica curtiam seus últimos momentos de glória. Voltaria mais tarde para atolar o carro 3 vezes na areia e recolher as almas danificadas pelo sol, vento e cerveja! Esqueci de dizer, o Berinho também estava na praia! Jantamos e dormimos. Como segunda-feira é dia de trabalho, arrumamos as coisas, tomamos um café da manhã light, fizemos hora e partimos em direção Cachoeira do Arari pouco antes do almoço. Embora o trajeto seja menos de 100 km – sendo que aproximadamente 30 km é asfaltado e o restante, de Condeiras a C. do Arari, uma estrada de chão muito melhor do que alguns techos da Belém-Brasília, perde-se um tempo enorme se não tivermos a sorte de chegar no horário das duas balsas que temos que usar para chegar à esta cidade. A estrada que nos leva a Cachoeira do Arari atravessa alguns vilarejos e uma enorme planície onde pastam uma quantidade absurda de búfalos e alguns outros animais (bovinos, caprinos e, acreditem, até suínos pastam por essas bandas!). Chegamos à Cachoeira do Arari no final da tarde, e já fomos calorosamente saudados por um fanático pelo Paissandú , que em troca pela emotiva saudação nos pediu um real para tomar uma! Não tínhamos. Cachoeira do Arari uma é cidade típica paraense, coisa que descrevemos anteriormente. Não, aqui ninguém mencionou Ets. Mas tem urubu a dar com o pau, criançaa na mesma proporção que cachorros na rua, valas de esgoto correndo livre, leve e solto e um megafone (boca de ferro) insuportável que anuncia a partida dos recreios para Belém, faz propaganda do comércio local, toca orações, brega, tecno-brega e até Titãs (é mole??). E bem alto!!!!! Logo que chegamos fomos a procura do Jorginho, lembra? Aquele que estava meio travadinho no sábado quando chegamos a Ilha? O Jorginho tomou lugar do Catarino em todos os sentidos. Catarino, que sempre foi atravessador, agora é vereador na cidade, e prefere a boa vida política à vida insípida de piabeiro (nome atribuído aos pescadores de peixes ornamentais). Voltando ao Jorginho, não é que ele já havia conseguido algumas arraias no domingo mesmo com o pessoal que “trabalha para ele”! Esse sim é um figura! Logo que chegamos ele não estava, pois estava no rio a procura de nossos animais, por que segundo ele o pessoal não coletou muito bem e ele mesmo teve que ir lá pra garantir as promessas que ele havia nos feito no sábado – olha que jurávamos que ele não se lembrava de muito! Trabalhar com a ajuda de pescadores de peixes ornamentais sempre é mais fácil, quando eles cumprem a palavra de coletar o que você deseja. O que foi o caso. Os animais são coletados com cuidado, manipulados com destreza de quem sabe que não pode danificar o material e mantidos em viveiros até a entrega. E assim foi feito. Em dois dias de trabalho processamos 37 arraias – quem já fez isso sabe que 10 por dia é pauleira, mas como queríamos andar com as coisas em Cachoeira do Arari, nós trabalhamos arduamente – vai ver que foi culpa pelo domingo de folga! A logística foi um pouco diferente de Colares. Como os bichos eram coletados e colocados no viveiro, logo de manhã íamos com o carro buscar os animais em basquetas e levá -los para o “hotel”. Lá, debaixo de uma enorme amendoeira, processávamos o material aos olhos dos curiosos (maioria crianças) que passavam pela rua e viam que ali estava acontecendo algo inusitado. O arranjo de funções foi o mesmo de sempre, e aqui cabe algumas correções. Segundo Mauro e Verônica, todos os trabalhos são ingratos nessa temperatura, não somente a fixação dos hospedeiros em formol – função atribuída ao Fernando, como dito no último blog. Coloco aqui um lamento, o saco de trabalhar com o formol o dia inteiro é ter que usar instrumentos para segurar o cigarro! (por sinal o Samsom acabou em Cachoeira do Arari!!!). Bom, foram 3 noites em Cachoeira do Arari e certamente devemos muito do conforto de trabalhar com animais vivos aos pescadores coordenados pelo Jorginho. Mesmo no curto período que tivemos na cidade aproveitamos para registrar um evento cultural que parece estar tomando conta dos homens dessa região. Todos eles, na faixa etária que varia dos 4 aos aprox. 30 anos possuem um corte de cabelo característico ao qual atribuímos o nome genérico de “escova de xoxota” (com o perdão da palavra chula). Eis algumas evidências etnográficas que carinhosamente compartilhamos com vocês. A balsa chegará em Belém em breve e isso já ficou longo demais. Amanhã partiremos para Teresina depois de despachar umas arraias e pegar nossa encomenda com o Alexandre mandada pelo Ricardo e pela Cris – gente, sem Samsom não dá!

Beijos a abraços a todos.
Fernando, Verônica e Mauro

Um comentário:

Será que alguém lê isso? disse...

hahahahahahahahahaha!!!

Só não fiquei com inveja da escova de xoxota!

E, infelizmente, não sei o que é Samson...

Se precisaram de voluntários na próxima, tô na 144.

Beijos